quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Semi-homem.

O que eu via era apenas suas pernas, basicamente foi essa a imagem, o restante é tempero, cor, temperatura. Acredito que o olhar de qualquer pessoa que decida realmente ver o mundo de alguma forma amplia, as coisas são pobres quando não enxergadas direito, se é que há um jeito certo, sinceramente não sei. As pernas que eu vi tinham como seu restante uma caixa de papelão amassada, não dava pra perceber se a respiração ainda trafegava naquele corpo, poderia ser um cadáver, o dia passaria, o cadáver repartido em papel e carne permaneceria sendo velado, sem orações, os cantos seriam buzinas, pois decidiu que sua morte seria segredo...ou não, acordaria, faria dois buracos que serviriam como olhos, seguiria até a padaria mais próxima e tomaria um café. O transito na calçada continuava mais intenso, muitas cabeças, sapatos, calças, camisas, óculos, cabeças de novo ... nunca saberei como era o rosto desse semi-homem ou semi-papelão.

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